Quando as Palavras “Contam”

Costa, A. P., Faria, B. M., & Reis, L. P. (2015). Investigação através do Desenvolvimento: Quando as Palavras “Contam.” RISTI – Revista Ibérica de Sistemas E Tecnologias de Informação, (E4), vii–x. https://doi.org/10.17013/risti.e4.vii-x

Na edição especial da Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação de 2015 sobre Investigação Qualitativa os editores convidados efectuaram uma pequena abordagem à importância que os estudos qualitativos podem ter no desenvolvimento de software. Neste texto apresentamos excertos desse editorial podendo o mesmo ser consultado na íntegra através da referência supracitada.  A investigação científica baseada na metodologia Investigação & Desenvolvimento (I&D) tem uma prevalência para estudos quantitativos. Primordialmente, interessa ao investigador testar/provar alguma teoria, através das ações dos indivíduos implicados no estudo (Costa, Faria, & Reis, 2015). O investigador pretende generalizar e usa, normalmente, dados numéricos. Quando aplicamos a I&D à conceção de pacotes de software, torna-se redutor que o investigador não tente percecionar o contexto em que o estudo ocorre, interpretando os significados dos participantes recorrendo a processos interativos e iterativos. Assim, a metodologia de I&D (“Design Research” surgindo também a expressão “Research through Design”) tem vindo a ganhar espaço nos projetos de software que, segundo Pierce (2014), “incluem dispositivos e sistemas que são tecnicamente e na prática capazes de ser implantados para estudar participantes ou utilizadores finais (p. 735) [nossa tradução].”

Segundo Velsen e colaboradores (2008), dependendo da fase em que se encontra o projeto, a avaliação pode servir para diferentes propósitos. Na fase inicial, em que ainda não existe nenhum software, a avaliação providencia informações de apoio à tomada de decisão. Numa fase intermédia e através da apresentação de protótipos, permite detetar problemas. Numa fase final, já com uma versão completa do software, permite aferir a sua qualidade. O processo preconizado por estes autores, designado como Design Iterativo está dividido em 4 fases (Van Velsen, Van Der Geest, Klaassen, & Steehouder, 2008):

  1. Antes do desenvolvimento do software: pretende-se tomar decisões através da recolha e análise de questionários, entrevistas e focus groups. Estes instrumentos são construídos para caracterizar e definir os requisitos do utilizador;
  2. Protótipo de reduzida-fidelidade: pretende-se detetar problemas através da recolha e análise de dados provenientes de entrevistas e focus groups. Identifica-se a necessidade de sentir apreciação, a utilidade percebida e aspetos de segurança e privacidade;
  3. Protótipo de elevada-fidelidade: pretende-se detetar problemas através da recolha e análise de dados provenientes de questionários, entrevistas, protocolos think-aloud e observação. Além das métricas anteriores, pretende-se aferir a compreensibilidade, a usabilidade, a adequação, o comportamento e desempenho do utilizador;
  4. Versão final do software: na versão final aplicam-se os mesmos instrumentos de recolha de dados. Pretende-se além de algumas métricas enunciadas anteriormente, percecionar a Experiência e a Satisfação do Utilizador.

Os autores deste editorial referem que a “necessidade atual de identificar e compreender aspetos não mensuráveis/quantificáveis da experiência do utilizador com software tem feito com que muitos investigadores da área Human-Computer Interaction (HCI) utilizem métodos qualitativos. Os investigadores HCI começaram a perceber que o contexto, físico e social, em que determinadas ações ocorrem e quais os comportamentos associados, permite através de uma estrutura de categorias e a sua interpretação, analisar um fenómeno não replicável, quanto mais transferível de ser aplicado a outros contextos” (2015, p. 8).

Fazendo a ponte com o webQDA o investigador tem a possibilidade de analisar dados visuais o que permite aos investigadores HCI recolher dados em diferentes formatos aquando, por exemplo, da avaliação de um protótipo, em que captura em formato vídeo a interacção dos utilizadores com determinado sistema (observação).

Referências

Costa, A. P., Faria, B. M., & Reis, L. P. (2015). Investigação através do Desenvolvimento: Quando as Palavras “Contam.” RISTI – Revista Ibérica de Sistemas E Tecnologias de Informação, (E4), vii–x. https://doi.org/10.17013/risti.e4.vii-x

Pierce, J. (2014). On the presentation and production of design research artifacts in HCI. In Proceedings of the 2014 conference on Designing interactive systems – DIS ’14 (pp. 735–744). New York, New York, USA: ACM Press. https://doi.org/10.1145/2598510.2598525

Van Velsen, L., Van Der Geest, T., Klaassen, R., & Steehouder, M. (2008). User-centered evaluation of adaptive and adaptable systems: a literature review. The Knowledge Engineering Review, 23(3), 261–281. Journal Article. https://doi.org/10.1017/S0269888908001379

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