Análise de discurso e o método da triangulação

Por: Simone Antoniaci Tuzzo ([email protected]) e Claudomilson Fernandes Braga ([email protected]), Universidade Federal de Goiás, Brasil

A proposta de Análise de discurso e o método da triangulação partem de pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Leitura Crítica da Mídia – LLCM, instalado na Universidade Federal de Goiás – UFG, Brasil.

A triangulação aqui proposta é estuda por Tuzzo e Braga (2016) desde 2013 e se firma nos eixos fenômeno, sujeito e metafenômeno. Segundo os autores, é no fenômeno que se identificam os sujeitos pertencentes; o metafenômeno que origina e suporta o próprio fenômeno e o objeto que é em essência a gênese do próprio fenômeno. É, portanto, no sujeito e no objeto que o fenômeno se instala, se operacionaliza e se constrói como lugar de pesquisa, enquanto o metafenômeno só pode ser estudado dentro de um contexto social (TUZZO; BRAGA, 2016).

Para melhor compreensão desta proposta na prática, se aplicarmos o método de triangulação acima em pesquisas das ciências da comunicação, verificando, por exemplo: qual a representação social da corrupção em jovens universitários brasileiros?

A representação social da corrupção será aqui compreendida como objeto/fenômeno; os sujeitos pertencentes são os brasileiros representados pelos estudantes universitários (com o corpus selecionado pelo pesquisador); e o metafenômeno poderá ser identificado a partir dos resultados da pesquisa. Nesta hipótese, pesquisas desenvolvidas pelo LLCM apontam para a existência de atitudes de corrupção; o modo de justificar a ação de corrupção de cada indivíduo brasileiro; a existência de um comportamento generalizado pelos brasileiros; a competitividade nata dos brasileiros que sempre gostam de levar vantagens em ações e práticas sociais e também na certeza de impunidade sentida pela sociedade.

Desta forma, a corrupção no Brasil deve ser compreendida a partir dos sujeitos que a praticam, das estruturas sociais em que são praticadas e da complexidade social (Morin, 2005) que a suporta, pois as interferências do meio podem gerar mutações no fenômeno pesquisado. Tais eixos devem ser analisados em qualquer pesquisa que se baseie nesta metodologia, seguindo os princípios da triangulação.

Em se tratando de pesquisas na área da comunicação, a mídia é ponto importante na construção de todo o processo pela interferência social que exerce e que impacta em outras esferas sociais.

A comunicação possui relação direta com os públicos com os quais interage, construindo uma opinião pública firmada pelo processo de informação, compreensão, interpretação, reflexão e crítica, que ganha força nos sentidos que podem impingir em seus variados públicos e que serão imperiosos para a construção da imagem de um produto, serviço, marca ou de um território.

A importância da compreensão dos atores sociais pelo pesquisador é fundamental, bem como entender as particularidades inseridas em um contexto social, analisando como eles agem, o sentido que atribuem às coisas e as situações que constroem o cotidiano. Neste processo a comunicação é fator determinante para o entendimento dos sentidos sociais, tendo em vista que as pessoas enxergam a realidade a partir da observação e partilha com o outro.

Os quatro eixos centrais de construção das pesquisas qualitativas são firmados em Tuzzo (2016) e podem ser descritos da seguinte forma:

  1. Definição do tipo de pesquisa – Qualitativa, feita a partir de uma Leitura Crítica da Mídia;
  2. Recolha de dados – Vídeos organizacionais, pesquisas a partir de formulários, campanhas publicitárias, enfim, dados pertinentes ao estudo, coletados a partir de sujeitos ou pela mídia;
  3. Corpus para construção da amostra – Definidos a partir dos objetivos do pesquisador;
  4. Métodos de análise – Análise do Discurso Crítica.

Tudo tem início com a pesquisa bibliográfica que consiste no levantamento da bibliografia já publicada. O seu objetivo é fazer com que o investigador conheça o material escrito sobre o assunto que pesquisa, sendo auxiliar na análise de suas pesquisas ou na manipulação de suas informações. Ela pode ser considerada como o primeiro passo de toda a pesquisa científica. A pesquisa bibliográfica não é estática, mas deve ser pensada, refletida e contextualizada. A partir dela o pesquisador deve empenhar-se em não somente repetir o que já foi publicado, mas pensar em novos olhares, novas abordagens e novas formas de fazer com que as pesquisas na área avancem.

A Pesquisa de campo/empírica deve ser pensada a partir da certeza de que o espaço de pesquisa está na sociedade e o coloquial é um grande laboratório onde todo tipo de movimentação pode ser analisado, sob o olhar da ciência que se pesquisa e que mais se quer descobrir. O pesquisador deve ser crítico e o senso comum deve ceder lugar ao questionamento.

As pesquisas empíricas na área da comunicação ganham cada vez mais força tendo em vista as mudanças tecnológicas que impactam na ciência da comunicação. Os novos dispositivos móveis e as tecnologias de informação, mudam as relações sociais das quais a comunicação se ocupa no âmbito das investigações acadêmicas. O mundo se tornou digital, com impactos que transcendem a própria esfera da comunicação.

O método subjetivo (qualitativo) é indicado em casos onde se pretende obter um resultado dimensível, com interpretações, reflexões e explanações. A pesquisa qualitativa estimula o pesquisador a pensar sobre uma questão social, um objeto, um problema. Ela é aberta às interpretações dos dados coletados que poderão gerar conceitos e novas ideias.

A pesquisa qualitativa se preocupa com a profundidade de dados e descobertas a partir de fenômenos. A busca é pela interpretação, ressaltando o processo e o seu significado e os resultados são ideias e textos explicativos, analíticos, críticos. A pesquisa qualitativa é indutiva, ou seja, ela é conduzida pelos dados que gerarão conclusões e reflexões, baseados em situações, acontecimentos, interações pessoais, comportamentos humanos, relações sociais, atividades, credos, modos e costumes.

Sobre a análise de discurso crítica, devemos pensar que todo trabalho se firma no discurso e ao pensarmos em um discurso, devemos lembrar que ele sempre necessita de um dispositivo. O primeiro e fundamental é a linguagem, mas também devemos considerar o contexto daquilo que se diz, o conteúdo do discurso e a interpretação do receptor. O discurso não faz referências necessariamente ou exclusivamente às coisas, mas sim sobre as referências construídas pelo próprio discurso. O importante não é sobre o que falar, mas o que e como falar sobre. A natureza construtivista de discurso. O que importa é a referência que o receptor constrói.

A análise de discurso crítica adotada como método de análise das pesquisas empíricas fundamenta-se nos estudos desenvolvidos por Fairclough (2003), e na percepção da linguagem como parte irredutível da vida social dialeticamente interconectada a outros elementos sociais.

Por fim a análise dos resultados deve contemplar o olhar crítico do pesquisador e a realidade social onde a pesquisa foi desenvolvida para que a triangulação fenômeno, sujeito e metafenômeno possa ser plena.

Bibliografia

FAIRCLOUGH, N. (2003). Analysing Discourse: textual analysis for social research. London: Routledge.

TUZZO, Simone Antoniaci. (2016). Os sentidos do impresso. Goiânia: Gráfica UFG.

TUZZO, Simone Antoniaci; BRAGA, Claudomilson Fernandes. (2016). O metafenômeno no processo de triangulação da pesquisa qualitativa. Atas – Investigação Qualitativa em Ciências Sociais.

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