Investigação qualitativa na área da saúde: porquê?

Por Jaime RibeiroInstituto Politécnico de Leiria

O texto apresentado foi construído tendo por base o editorial da edição especial “Pesquisa qualitativa para pensar e atuar no campo da saúde” publicado pela Revista  Ciência & Saúde Coletiva.

Quando o assunto é investigação qualitativa, ouve-se frequentemente que “Não dá para generalizar”, “É pouco rigorosa”, “Estudam-se poucos indivíduos” e, até depreciativamente, “Isso é muito subjetivo”. Estas críticas contribuíram para a sua evolução, alertando para o elevado rigor que se exige atualmente. Embora não se corporize a generalização estatística, constata-se a aposta na validade interna que traduz as especificidades do grupo/fenómeno/caso estudado. São incontornáveis os seus contributos para a construção do conhecimento, pois o que eventualmente se desaproveita em extensão rentabiliza-se em profundidade e compreensão. A descrição detalhada de fenómenos, a subsequente desconstrução e reconstrução, possibilitam a mobilização de conhecimento, a transferibilidade crítica, permitindo assim a generalização analítica.

Passado este “abre-olhos” acerca da investigação qualitativa, surge a questão: Porquê fazer investigação qualitativa na área da saúde? Porque os métodos qualitativos têm muito a oferecer àqueles que estudam os serviços de saúde. Hoje a credibilidade crescente nos estudos mistos fará ruir paulatinamente a dicotomia quantitativo-qualitativo, seja usando-se a investigação qualitativa como exploratória para a quantitativa ou, ao contrário, esclarecendo, a partir de questionários, opiniões e comportamentos no ambiente natural de ocorrência do fenómeno estudado.

Conhecer as significações dos fenómenos do processo saúde-doença pode contribuir de sobremaneira para melhorar a qualidade da relação entre consumidores e fornecedores de serviços de saúde, fomentar maior adesão em ações de saúde implementadas individual e coletivamente e entender mais profundamente emoções e comportamentos dos doentes, famílias e profissionais de saúde. Indubitavelmente, a saúde é das pessoas, para as pessoas e pelas pessoas, pelo que uma auscultação profunda da “subjetividade” permite um maior conhecimento e, consequentemente, respostas ajustadas às pessoas, usuários e profissionais de saúde.

 

Ribeiro, J., Souza, D. N. de, & Costa, A. P. (2016). Investigação qualitativa na área da saúde: por quê? Ciência & Saúde Coletiva, 21(8), 2324–2324. https://doi.org/10.1590/1413-81232015218.15612016

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