Consegue caracterizar um QDAS intuitivo e de fácil uso?

Por António Pedro Costa, Universidade de Aveiro

Costa, Reis e Faria (2016) na carta editorial da Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação (número 9) abordaram a “Investigação Qualitativa Através da Utilização de Software: Workflows Metodológicos” na perspetiva do caminho que o investigador percorre aquando do uso de software de análise qualitativa. Os mesmos autores referiram que a utilização de software na análise de dados qualitativos, conhecido na literatura como Qualitative Data Analysis Software (QDAS), tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos. Este crescimento não se refere unicamente aos utilizadores/investigadores deste tipo de software, mas, também, à quantidade de aplicações/pacotes de software disponíveis no mercado. Os QDAS contêm funcionalidades para auxiliar os utilizadores em diferentes tarefas, tais como, a escrita e anotação, a codificação e interpretação de texto, abstração recursiva, uso de técnicas como análise de conteúdo e análise de discurso, mapeamento de dados, entre outras (Reis, Costa, & Souza, 2016). Como em outras áreas, os pacotes de software são desenvolvidos quando existe uma necessidade emergente na apresentação de soluções com intuito de dar resposta a determinadas necessidades. Se o objetivo for o de explorar uma ferramenta que permita metodologicamente trabalhar com Estudo de Caso, a mesma deve possibilitar e conter funcionalidades capazes de dar resposta às teorias associadas a este tipo de metodologia (Souza, Costa, & Souza, 2015). Contudo, convém entender o workflow que o utilizador/investigador segue ou que necessita quando opta por determinado tipo ou desenho de investigação. Estarão os QDAS preparados ou adequados para responder a estas necessidades?

No estudo de Costa, Neri de Souza e Neri de Souza (2016) em que se pretendeu aferir a que características e potencialidades os utilizadores dariam mais importância aquando da escolha de um software, os resultados de 362 participantes mostram que, 316 afirmam como razoavelmente relevante (n=54, 16,5%) e muito relevante (n=262, 72,3%) o software ser adequado ao tipo investigação. Consequentemente, com a resposta “muito relevante”, ser adequado ao desenho de investigação (n=233, 64,3%), as funcionalidades (n=230, 63,5%) e a usabilidade do mesmo (n=223, 61,6%). Neste mesmo estudo os participantes não valorizam o facto de o software ser open-source e funcionar via web/browser.

webQDA fontes internas codificação

Neste âmbito, a equipa do webQDA tem focado a sua investigação para que a curva de aprendizagem do uso desta ferramenta seja reduzida, mesmo com o aumento progressivo de funcionalidades que estão e irão ser implementadas. As metodologias emergentes ou as que sofrem “mutações” nem sempre podem ser implementadas ao mesmo tempo que estas surgem. Muitas destas funcionalidades implicam adaptação/atualização da tecnologia que as suportarão. Por vezes, o caminho implica que os requisitos também sofram ajustes e alterações de forma a equilibrar o que é exequível tecnicamente e metodologicamente.

Paralelamente, continuará o webQDA a ser uma ferramenta intuitiva e de fácil uso? A equipa do webQDA está focada em contrariar o que Muhr referiu no seu estudo: “A tool’s intuitiveness can be taken to impressive heights, but if a variety of methodologies and styles are to be supported, the increasing number of tool functions and workflows may conflict with this effort” (2010, citado por Schönfelder, 2011, p. 7).

Referências

Costa, A. P., Faria, B. M., & Reis, L. P. (2016). Investigação Qualitativa Através da Utilização de Software: Workflows Metodológicos (Carta Editorial). Revista Lbérica de Sistemas E Tecnologias de Informação, (19), 9–12. https://doi.org/10.17013/risti.19.ix–xii/

Costa, A. P., Souza, D. N. de, & Souza, F. N. de. (2016). Trabalho Colaborativo na Investigação Qualitativa através das Tecnologias. In D. N. de Souza, A. P. Costa, & F. N. de Souza (Eds.), Investigação Qualitativa: Inovação, Dilemas e Desafios (1a, pp. 105–127). Oliveira de Azeméis – Aveiro: Ludomedia.

Reis, L. P., Costa, A. P., & Souza, F. N. de. (2016). Análise Comparativa de Pacotes de Software de Análise de Dados Qualitativos. In Á. Rocha, L. P. Reis, M. P. Cota, O. S. Suárez, & R. Gonçalves (Eds.), Conferência Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação (pp. 998–1003). Gran Canária – Espanha: AISTI – Associação Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação.

Schönfelder, W. (2011). CAQDAS and Qualitative Syllogism Logic — NVivo 8 and MAXQDA 10 Compared. Forum: Qualitative Social Research, 12(1), 7–27. Retrieved from https://www.google.com/url?sa=t&source=web&cd=1&sqi=2&ved=0CBYQFjAA&url=https://www.qualitative-research.net/index.php/fqs/article/viewArticle/1514&rct=j&q=CAQDAS and Qualitative Syllogism Logic ?NVivo 8 and MAXQDA 10 Compared&ei=td36TcW_AYmctwf5k-y6Dg&usg=

Souza, D. N. de, Costa, A. P., & Souza, F. N. de. (2015). Desafio e inovação do estudo de caso com apoio das tecnologias. In F. N. de Souza, D. N. de Souza, & A. P. Costa (Eds.), Investigação Qualitativa: Inovação, Dilemas e Desafios (Volume 2) (1a, pp. 143–162). Oliveira de Azeméis – Aveiro: Ludomedia – Conteúdos Didácticos e Lúdicos.

DEIXE UM COMENTÁRIO